terça-feira, 25 de novembro de 2014

NOSSA SENHORA DOS MÁRTIRES

Nossa Senhora dos Mártires
(1147)
(Lisboa - Portugal)
Dom Afonso Henriques, primeiro monarca português, via com grande mágoa tremularem as luas maometanas na ilustre cidade de Lisboa, e o desejo de libertar a cidade do jugo odioso dos inimigos de sua fé aumentava dia a dia em seu piedoso coração. Um dia, quando estava entregue a esses pensamentos, eis que surge, no vasto oceano, a verdadeira Estrela do Mar, Maria Santíssima, que, representada em uma devota imagem, vem acompanhando uma ostentosa armada de cruzados,composta de alemães, franceses e ingleses. Vinham dos portos do norte com o fim de resgatar a Terra Santa do poder dos bárbaros e, inesperadamente, por disposição divina, chegaram à costa de Portugal.
O piedoso monarca, depois de saber qual era o fim daquela armada, convida-os à conquista de Lisboa, porque, explicou-lhes ele, seria muito do agrado do Senhor contribuírem para a exaltação da santa religião em um reino que o mesmo Senhor pouco antes fundara de maneira tão gloriosa.
Os cruzados aceitaram o convite e se dispuseram para tão ilustre feito, de cujo resultado não duvidou o rei, quando soube que eles traziam na armada, como sua protetora, uma imagem de Nossa Senhora.
Deixando, pois, as naus, os cruzados desembarcaram nas praias de Lisboa, conduzindo igualmente para terra a sagrada imagem, que desde o princípio da viagem lhes havia servido de consoladora companhia.
O lugar onde hoje se acha construído o templo de São Vicente de Fora é ocupado pela divisão dos cruzados; e a divisão dos portugueses está no lugar em que se construiu o santuário onde hoje é venerada a imagem,a qual foi colocada nesse lugar com a permissão do general dos cruzados, Guilherme da Longa Espada.
Transportado de júbilo por possuir em seu arraial tão precioso tesouro, o rei Afonso, confiando firmemente na proteção da Santíssima Virgem, fez o voto de erigir em sua honra um santuário, que aos vindouros patenteasse seu reconhecimento, se por intercessão de tão poderosa protetora conseguisse a suspirada vitória.
Quando o rei formava o plano do grande ataque, que havia de decidir a conquista de Lisboa, inesperadamente é informado de que um reforço considerável de infiéis avançava pelo lado de Sacavem, com o fim de socorrer os irmãos de armas e malograr os projetos do rei.
Longe, porém, de se aterrar com tão inesperada nova, o rei julga-a como feliz anúncio de suas futuras vitórias, porque escudado com a proteção de Maria Santíssima, Senhora nossa, nada tem a temer dos inimigos de Mafoma: sai ao encontro do tal reforço, e tão valorosamente o investe que muitos dos inimigos acham desprezível sepulcro no mesmo lugar em que pouco antes se prometiam mutuamente a vitória.
O rei Afonso reconhece no feliz resultado desse primeiro conflito a proteção visível da Santíssima Virgem e, e, solene testemunho de gratidão, manda ali mesmo edificar uma pequena capela em honra de Maria Santíssima.
Na tomada de Lisboa, os soldados de Afonso com seus aliados foram novamente auxiliados pela puríssima Mãe de Deus, que os protegeu até entrarem na posse da sede da monarquia dos lusos, cujas portas lhes foram gloriosamente abertas no dia 25 de outubro de 1147, dia memorável em que, entrando em Lisboa o exército vencedor, os cristãos, prostrados diante da verdadeira Judite, sua libertadora, representada naquela imagem, a saudaram agradecidos como os betulianos à vencedora de Holofernes – Tu és a glória de Lisboa, a alegria de seus habitantes, a honra do povo português.
Libertada Lisboa do bárbaro jugo pela poderosa proteção de Maria Santíssima, o rei tratou zeloso do bem-estar daqueles generosos cruzados que tanto o haviam ajudado em sua conquista, e, não se esquecendo dos mortos, procurou um lugar decente em que pudessem ser sepultados os corpos daqueles a quem a piedade dos fiéis já chamava mártires, por terem dado com a vida um testemunho de sua fé.
Benzido o terreno, foram sepultados os restos mortais dos devotos guerreiros falecidos na batalha, e os sobreviventes construíram uma capela para a qual transladaram a imagem de Nossa Senhora. E, para maior veneração da Santíssima Virgem, edificaram na proximidade da capela umas pequenas celas para habitação dos vários sacerdotes ingleses, a quem presidia o venerável sacerdote Gilberto, com o fim de se empregarem cotidianamente nos louvores da Mãe de Deus.
Logo depois, tratou o agradecido monarca de dar cumprimento fiel ao voto que tinha feito à Santíssima Virgem: manda levantar em seu louvor um santuário dedicado à Mãe de Deus com a invocação ou título de Nossa Senhora dos Mártires, para que ali fosse colocada a veneranda imagem, por ser o templo edificado no lugar em que estavam sepultados os valorosos cristãos que haviam morrido em defesa da fé e eram chamados mártires.
O rei esmerou-se na construção desse santuário, que seria santificado pela real presença de Deus e aformoseado com a imagem de sua Mãe Santíssima. Os muitos terremotos que lastimosamente se fizeram sentir em Lisboa, em diferentes ocasiões, arruinaram mais de uma vez esse majestoso santuário, que sempre foi reparado.
A última reconstrução foi concluída em 18 de março de 1774, e nesse mesmo dia transladou-se para lá a imagem de Nossa Senhora dos Mártires, que ali está até hoje.
Esta é a origem do título Nossa Senhora dos Mártires, que por outros motivos já lhe era sumamente glorioso, porque, sendo ela a Mãe do maior dos Mártires, Nosso Senhor Jesus Cristo, sua alma santíssima sentiu todos os tormentos da paixão de seu Filho, e a ímpia lançada, que o Filho morto já não sentiu, foi cravada em sua puríssima alma. É a Rainha dos Mártires, como lhe chama a Santa Igreja, porque por seu martírio inigualável, é a fortaleza dos mártires em seus combates, e a consoladora dos que vivem martirizados pelos trabalhos e sofrimentos desta triste vida

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